- Seu Ascenso! Seu Ascenso!!
Me escute! Me responda, pelo amor de Deus! O que o senhor tanto olha
nesse Rio? - Ouvi a indagação daquele senhor sentado nos livros de Ascenso,
aquela nosso velho poeta pernambucano. Parei para ver o que estava se passando.
O Rio Capibaribe estava com a maré baixa. Os caranguejos estavam à vista,
alguns brigando. Dali dava pra ouvir o barulho de suas patas fechando e
abrindo, batendo em outras patas. Eram muitos diálogos, o velho com Ascenso, os
caranguejos com os outros caranguejos, o vento com o rio. Mas voltei a ouvir as
indagações do velho.
- Ei Ascenso, você é surdo? Porque você só olha pra lá? O
que tanto vê ali? Você está hipnotizado, amigo? – o velho encostou a mão no
ombro de Ascenso e diz com a voz baixa – Tenho pena de você. Penso na sua
solidão e sofrimento. Você só está acompanhado do vento e do Rio. Esse rio que
trás a sujeira de todos, que trás o mau cheiro, o resto das coisas. O rio que
leva e que trás os momentos de tanta gente, restos de momentos, de diálogos, de
vontades. Leva as coisas que ninguém
mais deseja. Amigo, percebo a sua solidão. A sua solidão que também é minha.
Em seguida, o velho silenciou-se, olhou para o Rio e lá se
perdeu. O pensamento dele transitava entre as pontes, os caranguejos, o lixo,
os pássaros, o vento, o amigo e os livros. Depois de um tempo disse a Ascenso:
- A maré está subindo, amigo. Vou ficar aqui ao seu lado esperando toda essa sujeira
passar. Esperando o rio levar os restos das pessoas embora novamente.
Depois de duas horas, quando a sujeira estava novamente
encoberta pelo Rio, o senhor levantou-se de lá, olhou no rosto do poeta, sorriu
carinhosamente e disse: – Muito obrigada pela companhia, meu velho amigo.
Ascenso
nada respondeu, apenas o olhou com aquele mesmo ar sereno diário, confortando o
velho.
Ascenso era uma
estátua.
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